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Aprendi a dizer [sim!] Não!

Publicado em: 30 dez 2015 Evoluindo SOE

 

Número 9, Ano 1 SOE – Serviço de Orientação Educacional                                Dezembro / 2015

Um clássico da música popular brasileira, imortalizado na voz forte e franca de Jair Rodrigues(1939-2014), que venceu o Festival da Canção de 1966, começa assim: “Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar…”. A letra da música encontra-se num texto marcado de perseguição e de dor; eram tempos da Ditadura Militar no Brasil. A esperança precisava ser cantada porque reinavam o desespero e o medo.

Fazendo um contraponto dessa canção com um outro tema da atualidade, vamos observar que prepara-se o coração para ouvir e dizer coisas que precisam ser ditas e ouvidas, mesmo que vivenciadas com dor. É muito importante, e isso precisa começar cedo, aprender a dizer não às crianças quando o não for necessário. E, embora se diga que o sim é a melhor resposta que se deseja ouvir, é improvável que um adulto de bom caráter tenha sido formado ouvindo só sim.

Outro dia presenciei um pai oferecendo dinheiro ao seu filho, de aproximadamente 7 anos, para que ele realizasse a tarefa escolar. A proposta inicial era de 5 reais semanais. O menino negociou esse valor diariamente, e o acordo foi fechado em 15 reais. Ambos ficaram satisfeitos. Eu diria que os dois perderam uma grande oportunidade de aprender e de ensinar uma lição para a vida inteira. Aquele atalho iria custar caro para muita gente.

Os pais e as mães de família têm tido todos os seus dias corridos, e este é o álibi encontrado para justificar a pouca presença e participação na formação dos filhos. No intuito de compensar essa ausência, a permissividade acaba sendo a aliada mais comum. Diz-se sim a todas as atitudes dos filhos para atender, com pouca ou nenhuma dificuldade, às demandas por eles, os filhos, apresentadas.

A falta de tempo e de paciência, o cansaço e até mesmo a força do hábito levam os genitores a dizerem também o não sem nenhum critério: “Não pode porque não pode. Pronto, acabou!”. Essa atitude é tão comum que até parece natural… Agindo dessa forma, não se está levando em consideração o senso de curiosidade que é natural em toda criança e que a move. Dizer não só para impor a autoridade não educa. É educativo e saudável quando o sim ou o não é explicado. “Não se deve subir na mesa porque é perigoso, você pode se machucar.” “Pode mexer no controle da televisão, mas tem que ter cuidado porque, se cair, quebra. “É mais trabalhoso? É. Mas muito mais educativo e construtivo; cria o diálogo e ajuda a construir o entendimento do certo e do errado, do que pode ou não, e do que é dever. Você pode desarrumar a gaveta, mas tem o dever de colocar tudo no lugar novamente.

Aprender a dizer não pode significar preparar o coração para coisas que serão contadas. As histórias e estórias que os mais velhos nos contavam iam preparando o nosso caráter. Os enredos das historietas apresentavam os personagens bons como exemplo a ser seguido, e os pais faziam questão de ressaltar os valores para que eles ficassem registrados no coração. O mal, nessas fábulas, geralmente, era punido, para ensinar que ele não compensa. Preparar o coração, o caráter, exige tempo. Não se preparam os filhos para serem bons cidadãos deixando-os todos os dias, o dia todo, em frente ao computador e à televisão; lá, os personagens maus se dão bem, são bem recompensados. Lá, os corações são preparados para o mal, para a violência, o desamor.

Crianças e adolescentes inadequados e deseducados são construídos, eles não nascem assim, são frutos dessa relação sem tempo e compromisso, relações aceleradas, tipo restaurante fast-food (comida rápida). É necessário temperar os sins e nãos com as explicações devidas, elas são os ingredientes ideais para ajudar na formação dos valores que desejamos que os nossos filhos aprendam e vivam. Quando os pais, os primeiros educadores dos filhos, não assumem a aliança de estabelecer os limites, não só eles em casa sofrerão as consequências, mas, nos outros espaços que farão parte da vida dessas crianças, quem tiver a oportunidade de conviver com elas experimentará a irreverência e rebeldia advindas da ausência do diálogo e da determinação das fronteiras que o dizer sim e o dizer não ajudam a construir.

A escola é a segunda instituição onde a criança, provavelmente, passará a maior parte do seu tempo. E ali, diante do educador que precisará lhe dizer não e sim, relevam-se a criança e o adolescente infantilizados, pois não foram exercitados para lidar com as fronteiras do que pode e do que deve, do que é ou não permitido. A proposta dos limites sugeridos pela instituição acaba sendo acolhida pelo estudante como um constrangimento; diria mais: como um ato violento, uma imposição.

Muitas crianças se deparam, pela primeira vez em sua vida, com a determinação de um não quando dito pelo professor. Acostumadas a ouvir sim e a não serem contrariadas, sentem-se frustradas quando não podem fazer tudo o que desejam. Por não saber ou por falta de tempo, os pais acabam não ensinando os filhos a lidarem com as frustrações. Qualquer pessoa, em qualquer fase da vida, pode aprender uma ou muitas lições com uma frustração. O filósofo Jean-Jacques Rousseau disse, lá no século XVIII, que “A maneira mais certa de deixar seu filho infeliz é acostumá-lo a receber tudo.” Receber tudo sem o esforço da conquista, sem ao menos precisar pedir e muito menos agradecer.

Os pais não devem ignorar nem transferir a tarefa de educar os seus filhos a outras pessoas ou instituições, porque os filhos são escolhas que são feitas pelos próprios pais. Delegar para terceiros o compromisso de instruir os nossos filhos é, no mínimo, descuido. Saber ouvir e acolher um não vai ajudar na formação adequada para as interações sociais, essa atitude colaborará nas escolhas individuais e coletivas que são realizadas cotidianamente. Prepare o seu coração para dizer não aos seus filhos, porque eles precisam saber que as atitudes por eles tomadas têm consequências. Crianças educadas ouvindo não terão menos dificuldade para enfrentar a escola, a vida e, no futuro, podem vir a ser pais e mães estabelecendo relacionamentos em que as diferenças e limitações serão aceitas e compreendidas como um processo de aprendizagem.

 

Tião Souza

 

EVOLUINDO é uma comunicação mensal, enviada pelo SERVIÇO DE ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL  –  SOE, que visa levar aos pais e/ ou responsáveis textos atuais acerca do desenvolvimento da criança e do adolescente.


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