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Evoluindo 26: Limites: Desde cedo, para não ser tarde demais.

Publicado em: 29 set 2017 Evoluindo SOE

O mundo anda mesmo de cabeça para baixo. Valores e limites antes tão presentes em nossa infância, passam agora a serem questionados naturalmente, deixando cada vez mais os adultos inseguros em seu papel de educadores.

Vejamos esta situação: Uma mãe que tem filho em escola tradicional da Tijuca, pede retirada de pipoqueiro porque seu filho não pode comer pipoca todo dia. Mas quem disse que o pipoqueiro está lá só para atender esta criança? O pipoqueiro está ali trabalhando. Ganhando a vida honestamente. Oferecendo pipoca, sim. Pra quem quiser comprar. Para quem puder comer. Para os que ganham, de presente ou recompensa, a pipoca naquele dia. Não seria mais fácil educar seu filho do que implicar e mandar retirar o pobre do pipoqueiro?

E os pipoqueiros dos cinemas? Das pracinhas? Da porta dos clubes? Das ruas? E os baleiros? Os sorveteiros? Os vendedores de algodão doce, a maior das perdições? Já pensou nas crianças diabéticas? Nas que têm alergias e restrições alimentares? Fazer o quê? Mandar sumir com todos? Esse aperto de porta de escola, eu também passei por isso. Minha criatura chorava. Todo dia, ou quase. Dava 17h30 e a frase já vinha na ponta da língua:

– Uma coisinha do Seu Zé? Pode?

Não podia. De vez em quando, ok. Todo dia não mesmo. Ela chorava. Eu tentava conversar. Não adiantava. Eu esperava passar. Passava. Claro que passava. Ia chorar a vida inteira? Não dava dez minutos, ela já estava correndo com os amiguinhos de novo. Confesso que desejei muitas vezes que Seu Zé sumisse, sim. Não nego. Bem longe de mim. Mas nunca me ocorreu o absurdo de forçar a saída dele só porque eu não sabia educar minha filha.

Limite já esteve mais em moda. Mas é coisa bem pouco conhecida hoje em dia. Uma pena. Dar limite é ensinar a suportar as dificuldades. A esperar até que as coisas possam realmente acontecer. É mostrar que a gente tem que se esforçar por merecer ou conquistar. É ensinar a capacidade de saber frear de dentro para fora. De puxar a própria rédea. A percepção de que tudo tem um preço. E pode não valer a pena. Limite é contrato. Tem dois lados. Tem que assinar embaixo e cumprir. O limite ensina a criança a esperar a se acalmar.

Se é Não, é Não mesmo. Se diz que não vai ter, não pode ter. Ou é melhor nem dizer. Crianças testam. Fazem birra. Escândalos. Choram. Jogam-se no chão. A gente tem vontade de sumir. Passa vergonha. É assim mesmo. Faz parte. Não pode só dizer sim. Fazer todas as vontades e correr o risco de criar um coitadinho ou um prepotente. Duas opções de péssima qualidade.

Hoje em dia, com o advento do Whatsapp temos uma mutação do ser humano bem esquisita. Se você não tem filhos em idade escolar, talvez não saiba do que eu estou falando. Grupos de pais são formados e infelizmente, às vezes, aumentam pequenos detalhes. Deturpam fatos. Diagnosticam o indiagnosticável.

Os filhos dos outros, sim, podem sofrer à vontade. Os deles, nada. Assim o mundo vai sendo alterado para que seus filhos não sejam incomodados. Eles crescem sem educação. Sem a noção de respeito ao outro.

Professor que reclama? Dá nota baixa? Chama a atenção? Tem o mesmo destino do pipoqueiro. O mais grave dessa história é que o pipoqueiro é só a ponta do iceberg.  Bronca na escola? A culpa era minha. Mesmo que não fosse, seria. No dia seguinte eu ia para a escola com minha mãe a tiracolo. Acha que ela ia me defender? Criar caso? Brigar com a professora? Ia, muito envergonhada, me fazer pedir desculpa, é claro.

Para a minha mãe, pipoqueiros e pipocas poderiam existir tranquilamente. Eu que aprendesse a me contentar com o cheiro. E com a esperança de, um dia, poder comer também. Podia, podia. Não podia, paciência. Estou aqui, não estou? Então.

A criança feliz não é a que pode tudo. É a que sabe que algumas coisas podem, outras não. E que se vive bem com isso. Vida não é ter tudo. Vida é batalha, desafio. E, sobretudo, gratidão. A gratidão de enxergar e aproveitar o que já tem. E o que já conquistou. A falta do limite e a ausência de gratidão são a fonte do enorme vazio da nossa juventude. A ilusão do prazer total e ilimitado é uma fantasia cruel. Joga as pessoas em vazios insustentáveis. Leva à fuga da própria vida.

Por isso cresce tanto o número de meninos drogados em nossa sociedade. A droga é o sonho de viver sem dor. É a ilusão do prazer sem limites. Do prazer sem frustrações. Assim se chega às overdoses. Só que a droga também frustra. O efeito acaba. Você precisa comprar mais. Correr atrás do dinheiro para a próxima. Cada vez o efeito é mais curto e cada vez a duração do efeito é menor. Muitos pais fingem não ver. É difícil enxergar o buraco em que um filho entra. A tendência é botar panos quentes. Dizer que não é nada, não é grave. Mentira.

Um jovem preso com cento e trinta quilos de maconha e um fuzil não é apenas um jovem. É um traficante. Um jovem que rouba um carro e desmonta para comprar droga, não é apenas um jovem. É um ladrão. Histórias que podem ter começado com um simples pipoqueiro tendo que sair da porta da escola. Com os pais indo brigar com os professores que reclamavam dos filhos, ou exigindo pontos que eles não trabalharam para ter.

Parece tão pouca coisa, não é mesmo? Acredite, não é. Nada é pior na educação de uma criança do que a falta de limites. Vida é prazer e frustração. É erro e acerto. Perdas e ganhos. A vida sem Não, não existe. É preciso ir sendo frustrado. Dizer não, não é maltratar. Essa afirmação é um engano.

O Não pode ser dolorido. Mas onde tem um Não, também tem um sim.

– Não, você não pode mexer no celular.

Ok. No resto das coisas pode. Pode ler. Brincar com outra coisa. Conversar olhando no olho. Ver televisão. Aproveite o possível. O possível sempre está por perto. A gente é que nem sempre enxerga. O Não estrutura. Dá a exata noção do respeito ao que é do outro. Ao corpo do outro. À vida do outro.

Evitar as dores? Não deixar que se frustre? Que sofra? É muito boa intenção. Das melhores. Que pai não quer preservar e proteger seu filho? Quem não gostaria de tirar toda e qualquer pedra e dificuldade do caminho dos filhos? O que a gente não percebe é que são exatamente as pedras que asfaltam o caminho. Os ventos que tornam as asas mais fortes. As metas que dão força para levantar e completar o destino traçado.

Na construção da personalidade, o limite dá liga, consistência, segurança. Dar limites é ensinar a ser gente. A ser humano. A entender e respeitar diferenças. Dê limites hoje, para não ter que se deparar com o pior. A não ser que você seja desembargadora, tirar filho da cadeia dá trabalho e custa caro. Seja você responsável, escola ou pipoqueiro, dê limites agora. Antes que seja muito triste e muito tarde.

 

Texto de autor desconhecido e adaptado pelo S.O.E.

 


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